Cu de quê?
Prelúdio
Ora bem, e como isto começa?... Como habitualmente, numa discussão de ideias com o Barradas.
Mas ainda antes de tudo, algum contexto necessário.
Primeiro falar da IBA, ou da Iron Butt Association, que é como quem diz "Associação do Cu de Ferro". É essencialmente um motoclube americano que certifica a quem se proponha e se qualifique, uma série de "troféus" ou "feitos" assentes essencialmente na realização de um determinado número de milhas (ou quilómetros) percorridos de mota por intervalo de tempo limite. Passeios de “gringos” num formato ideal para os seus longos cruzadores de ferro em estradas rectas infindáveis.
A maioria destas “provas”, tem rota específica e só realizável na terra do tio Sam. Existem no entanto dois ou três “troféus” internacionais realizáveis em qualquer parte do globo,, desde que claro sejam mantidas determinadas condições.
Os mais comuns são o SaddleSore 1000 (ou "Sela Dorida, 1000 milhas") e o BunBurner 1500 ("Queimador de Cu, 1500 milhas"), que é o mesmo que dizer, 1600 quilómetros em 24 horas ou 2400 em 36 horas.
É uma ideia de malucos, e estou convencido que estará a mentir, qualquer um que goste de rolar de mota e afirme que nunca lhe passou pela “careca”, a ideia de fazer uma coisa destas.
Feita a introdução e regressando à crónica, aqui há tempos, ainda antes de partir para África (ver crónica Rota Berber) lancei o desafio ao Barradas... 5 minutos depois, este respondia-me com um itinerário, o que prova que também sofre da mesma demência. Quando a pancada na cabeça é a mesma as coisas acontecem.
Como habitualmente, o percurso era bom, bem pensado, e sobretudo realizável. Se é para andar de cu tremido durante 24 horas, que seja a valer a pena.
Seria algo o mais possível do lado espanhol em auto-vias, onde a velocidade é boa, não se paga portagem e a gasolina é mais em conta.
O "troféu" alvo seria o mais acessível o SaddleSore 1000 ou 1600 quilómetros em 24 horas. É claro que para cumprir esta meta, dormir está fora de questão, e as paragens são basicamente para fazer o xixi da ordem e reabastecer. Estatisticamente ao ritmo de médio de 100 a 120 quilómetros por hora é coisa para rondar as 16 horas de condução, que com mais 5 horas de paragens perfazem as 21 horas totais. Para cobrir os 1600 quilómetros é razoável efectuar oito a dez paragens com cerca de 30 minutos cada, para reabastecimentos e descanso. Não há tempo para dormir, só mesmo para meter gasolina, comer e beber alguma coisa e desentorpecer o corpo. Planeámos oito paragens, uma delas mais alongada para almoço. O itinerário criado pelo Rui fazia-nos passar próximo das cidades de Portimão, Huelva, Sevilha, Córdoba, Madrid e Badajoz. Desta vez, nada de visitas, sempre a rolar em contra-relógio.
Para que a certificação seja aceite, existem algumas regras a cumprir, como a presença de testemunhas no início e fim e a recolha de recibos com data/hora num percurso tipicamente rectangular (ou com cantos). Assim o Rui sugeriu-me que em vez de se arrancar ao nascer do dia, iniciássemos ao fim da noite, depois de um jantarinho entre amigos. Isso permitiria fazer o troço que requer mais cautela (de noite) logo de início, mais fresquinhos. Depois teríamos o dia todo para navegar e o regresso seria feito ao fim do dia, ainda com luz no horizonte. Para além disso, saindo logo na sexta-feira, teríamos a noite de sábado para recuperar, e ainda o domingo para ficar com a família. Pareceu-me perfeito. Apenas sugeri que invertêssemos o sentido, rumando primeiro para Sul e fazendo o retorno à pátria pelas nacionais de Elvas. Pareceu-me mais seguro, e teríamos a possibilidade de embicar para a auto-estrada no regresso, caso houvesse algum atraso na agenda.
E com isto o plano estava feito.
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