Texas Hollywood
Dia 2, Tabernas
Finalmente Tabernas… Aqui cabe fazer um enquadramento.
O deserto de Tabernas localiza-se entre a Sierra de los Filares (a Norte) e a Sierra Alhamilla (a Sudoeste) e cobre uma área de 280km2. Está inserido na região de Andaluzia, província de Almeria, sendo paisagem protegida. Com cerca de 200mm de precipitação anual é considerado o único verdadeiro deserto existente na Europa (a classificação obriga a menos de 250mm por ano).
Com o clima árido que possui, a fauna e flora é muito específica e conseguem-se encontrar por aqui tarântulas, cobras, lagartos e algumas espécies únicas a estas paragens que conseguiram sobreviver aos quase 50C de temperatura máxima e 3000h de Sol por ano.
Não fossem estes factos já por si interessantes, há algo mais que torna este local ainda mais curioso.
No passado, Tabernas foi cenário de muitas películas tendo sido mesmo conhecido pelo “Hollywood Europeu”. A gravação de filmes iniciou no final dos anos 50, tendo tido o seu pico nas décadas de 60 e 70, e o seu declínio nos anos oitenta. Estima-se que por aqui, desde o inicio se tenha filmado mais de 300 filmes, na sua maioria Westerns. Foi a capital do Western Spaghetti (financiados por capitais italianos) ganhando fama pela mão do famoso realizador italiano Sergio Leone. Aqui foram gravados clássicos como: “A Fistful of Dollars” (1964), “For a Few Dollars More” (1965), “The Good, the Bad and the Ugly“ (1966) que contaram com a participação de estrelas como Clint Eastwood e Lee Van Clef.
Embora o local fosse propício a cenas de pistoleiros e cavalos, também aqui foram gravadas cenas para outros filmes como: “Lawrence of Arabia” (1962), “Cleopatra” (1963), “Zorro” (1974), “Conan the Barbarian” (1981), “Indiana Jones and the Last Crusade” (1989) e “Sons of Trinity” (1995).
Aqui a lista completa de filmes...
No entanto pela especificidade do local nunca foi por aqui criado um estúdio ou infra-estrutura para explorar o local. Em vez disso os estúdios foram ao longo destes anos construindo os seus cenários de gesso e argamassa à medida que necessitavam deixando-os depois para trás logo que não eram precisos.
Na década de oitenta veio o declínio e de lá para cá foram criados três parques (ou poblados) que reaproveitaram de alguma forma o que a época de ouro do cinema de cowboys deixou. São eles, o Mini Hollywood, o Fort Bravo (ou Texas Hollywood) e o Western Leone (ou Rancho Leone). O primeiro evoluiu incorporando no parque temático também um Zoo. O segundo, detentor do maior poblabo, manteve-se relativamente fiel a sua traça original. O terceiro, é o mais pequeno e sobrevive dificilmente.
Para além deste espaços mantidos e cujo o acesso é pago, é possível ainda encontrar no deserto alguns outros sets abandonados. No entanto o estado ruinoso a que chegaram, acaba com todo o interesse. Um deles (talvez o mais importante) é o “El Condor” que se consegue avistar aqui, mas que infelizmente está inacessível por se encontrar fechado numa quinta particular…
Posto isto, e já que não vínhamos de tão longe para ver pinguins, araras e o que mais de bicharada… Não foi difícil escolher a “xafarica” a visitar. Ainda para mais com a possibilidade de lá passar a noite numa cabana de madeira com todas as comodidades… Fort Bravo portanto.
O Fort Bravo (ou Texas Hollywood) nasceu pela mão de Rafa Molina, um duplo espanhol que adquiriu o cenário em 1977 por 6000 dólares na esperança que este pudesse ajudar à sua carreira. No inicio da década de oitenta, Rafa começa a cobrar algum dinheiro aos visitantes que pretendiam dar uma volta ao poblado. Mais tarde os espectáculos de pistoleiros surgiram e um dos edifícios (o saloon) foi convertido em bar e restaurante.
Aqui poderão conhecer mais um pouco pelo voz do próprio:
O poblado é composto por duas zonas distintas, uma tipicamente americana com um saloon, banco, hotel, forja (blacksmith) entre outros. E outra que consiste numa praça rodeada por casas brancas e uma igreja em estilo tipicamente mexicano.
Para além do cenário, existem algumas cabanas no limite do poblado para alojamento, bem como uma piscina aberta aos visitantes do parque.
Sendo sobretudo um parque temático, o Fort Bravo continua também a estar disponível como set de cinema.
O acesso ao Fort faz-se por um estradão que sai da nacional. Logo aí vislumbra-se um cartaz bem grande que identifica o caminho e também um individuo vestido a rigor de cowboy montado num cavalo, eventualmente ali colocado para impressionar quem passa.
Enfiámos por ali as motos e fomos a levantar pó até à entrada do forte.
Aí, parámos na bilheteira para falar com o espanhol que lá estava.
Deu-nos indicações para entrar, estacionar as motos no parque e seguir para o saloon para fazer o checkin... Assim fizemos.
Logo ali impressiona. O local não tinha quase gente nenhuma, mas a rua pela qual seguimos (que é a principal) cheia de edifícios erguidos ao mais puro estilo do Faroeste intimida. Ao chegar ao saloon ouvia-se já desde cá fora umas músicas de cowboys…
Entrámos no saloon que estava decorado no mesmo rigor de estilo.
Aí interpelamos um cowboy que estava por detrás do balcão, que muito simpático nos pediu para aguardar pelo “xerife” para fazer o checkin enquanto nos oferecia algo para beber.
Assim fizemos, e ainda ali aguardamos um bom bocado.
Aproveitamos para delinear o plano para amanhã. O atraso desta manhã tinha-nos impedido de chegar mais cedo e assistir ao espectáculo de tiros. Nada de grave pois fomos informados que pela manhã de amanhã chegaria um grupo para um novo espectáculo pelas 11h00.
Óptimo. Com cerca 4h00 de caminho para amanhã, tínhamos margem para ver o espectáculo e ainda dar uma volta de charrete… Hoje dá para ir à piscina!
Finalmente checkin feito, fomos conduzidos até aos bungalows e recebemos instruções para poder trazer as motos até junto do alojamento.
As cabanas eram muito jeitosas, com todas as comodidades necessárias, casa de banho de chuveiro com água quente, A/C e frigorífico.
Logo em frente estava a piscina, que para nossa infelicidade iria fechar daqui 10 minutos. Eu fiquei a fazer uns telefonemas, o Rui e o Ricardo despacharam-se a saltar lá para dentro.
Leave a message