Auto-estradas marroquinas
Dia 10, Assilah
Íamos descontraídos. Já não me lembro bem, seguíamos em duas faixas desimpedidas e eu à frente. Às tantas o Barradas diz-me que ia de mãos dadas com o Benedito…
"Perdão?... Opá… Faziam era isso à minha frente para eu filmar a cena" – respondi-lhe…
E assim foi… Passaram os dois para a frente e começaram a dar as mãos… em andamento, que nem artistas…
Depois trocou-se o par e fui “dançar” com o Barradas à frente do Benedito enquanto este filmava. E ainda bem que se filmou duas vezes, pois mais tarde verifiquei que na altura a lente da minha câmara tinha nela espalhada os restos de um moscardo, inviabilizando o registo! Felizmente ficou a fita do Benedito para a posteridade.
Esta auto-estrada era um pouco diferente da primeira. Duas faixas, com um separador central largo cheio de vegetação. Nesse separador chegámos a ver um polícia marroquino com tripé e binóculos montados. Estavam mais à frente, a passar multas.
As auto-estradas marroquinas têm que se lhe diga. Se por um lado de aspecto são iguais às nossas, de uso são totalmente diferentes. Assim, não é raro ver pessoas a andar por lá e a atravessá-las, burros, rebanhos, etc… Ia a comentar isso mesmo com o Barradas, dizendo-lhe que só nos faltava ver um gajo a vender fruta… Meu dito, meu feito… Acabávamos de passar por um tipo na berma de braço estendido com uma abóbora na mão!…
Papámos os restantes quilómetros de A1 sem problemas. A temperatura estava amena e toda aquela distância fez-se bem até à saída nas proximidades de Assilah. E foi mesmo aí à saída que fomos parados pela polícia. Quer dizer, foi com o Barradas que pegaram. Eu e o Benedito passámos.
Não havia razão, viemos sempre nos limites, mas numa ou outra esticada é possível que se tenha rodado ligeiramente acima do limite, e que fossemos fotografados por um daqueles tipos de tripé, enfiados no meio da folhagem.
Não demorou muito e o Barradas veio ter connosco depois das portagens. Nada de especial, o polícia motard marroquino queria apenas saber como tudo estava, se estávamos a gostar e até esteve a tirar medidas ao casaco do Barradas. Fantástica esta gente!… Estou para ver isto a acontecer na Europa. Não digo que não aconteça, mas deve ser raro, e aqui não é. Parece-me que o Barradas ainda quis tirar uma foto, mas nada feito… Devem ser ordens superiores, apesar de tentarmos, não trouxemos de lá nem um retrato da polícia marroquina, nem das suas magníficas BMW RT último modelo.
Já muito próximos de Assilah, mais um quilómetros de nacionais até à entrada da pequena cidade costeira. Para hoje não havia reserva, apenas a referência de um ponto onde poderíamos procurar dormida, o hotel Dar Andalhous… De hotel tinha pouca coisa, só mesmo os quartos sem qualquer serviço adicional. O preço era em conta e poderíamos deixar as motas à beira do hotel numa rua sem trânsito. Entrei eu primeiro para ver se havia algum triplo, e havia. O recepcionista levou-me ao primeiro andar para me mostrar o quarto, que julguei bastante satisfatório. O aspecto era limpo, casa de banho privativa e espaço suficiente para nos mexermos, nós e as nossas bagagens. Fiz-lhe sinal que sim, e logo de seguida fomos buscar a bagagem.

Ainda era de dia pelo que não demorámos muito por ali e saímos logo à rua para dar uma voltinha pela costa e Medina.
Assilah é uma cidade pequena, com uma Medina pequena e muito mais inspirada no estilo Andaluz do que no Árabe. Tudo ali faz lembrar Espanha! Historicamente, Assilah foi inicialmente tomada pelos árabes aos gregos e fenícios em 712 depois de Cristo. Na época dos Descobrimentos foi conquistada pelos portugueses e reconstruída, para logo de seguida ser retomada pelos árabes. E depois vieram os espanhóis que no século XVII sucumbiram ao assalto dos árabes. É apenas durante o século XX que esta cidade é oficialmente integrada no Reino de Marrocos, tendo sido até aí considerada uma cidade base de piratas (em 1829 foi bombardeada pela marinha espanhola e austríaca como retaliação à pirataria).



As habitações fazem lembrar o Sul de Espanha, mas as muralhas exteriores da cidade são nossas. Portuguesas, e ainda estão por lá de pé!

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