Deserto fora
Dia 6, Merzouga-Tinerhir
Perto das 5h00, toca a vestir e sair da tenda para ver o nascer do Sol.
A noite não foi grande coisa. Não porque não estivesse confortável, antes pelo contrário, até temia que fosse pior. Frio não tive e apesar do colchanito não ser grande coisa, deu para o gasto. O problema foi mesmo o barulho lá fora, dei por mim a acordar várias vezes com o pessoal que julgo terá optado por passar a noite ao relento.
Toca a subir a imensa duna para espreitar o nascer do Sol… E não estava propriamente agradável. Estava bem fresco, e fazer um esforço destes sem forrar o estômago não é fácil. Para piorar a cena, estava vento. De modo que era cada vez mais notória a areia nas “ventas”, à medida que íamos subindo o imenso monte areia. As minhas pernas deixaram-me estar a meio da duna. A altura era a que baste, e lá em cima devia-se estar pior. O Barradas subiu mais um pouco e o Benedito foi mesmo até lá acima. Os restantes turistas distribuíram-se pela encosta, uns acima, outros abaixo.

Sentado na areia, percebi o verdadeiro uso do lenço berbere. Fiquei todo tapado só com os olhinhos à espreita. Com aquela areia no ar, desisti logo de tirar fotos e enfiei a máquina por dentro do casaco. Mais tarde percebi que era igual ao litro, ali até os bolsos ficam cheios de areia, mete-se por todo o lado… E esperámos que Sol se levantasse atrás do horizonte.

Um momento bonito sem dúvida, mas muito desconfortável nestas condições. Um vento gelado que o polar que tinha vestido não travava, carregado de milhares de grãos de areia. Ao fim de dez minutos, um verdadeiro martírio. Assim que vi o Sol no ar, despachei-me a descer dali a passos largos… Bem melhor o por de Sol de véspera.

Depois desta experiência nada melhor que encher o estômago. Regressámos à tenda das refeições para tomar o pequeno-almoço. Ementa típica, café, sumo de laranja, pão e doces. À saída estavam um miúdo com uma modesta banca montada na areia. Em exposição estavam umas jóias e uns camelos de couro. O miúdo não falava grande coisa, mas lá se conseguiu perceber quanto queria pelos artefactos. Cada um trouxe um “camelo” de recordação. A ver vamos em que condições chega a casa, que isto de viajar com bagagem de mota não é fácil. Já estávamos com vontade de sair dali, pelo que nos aproximámos dos “veículos”. Por lá já estava o nosso guia a aquecer os “motores”. No caminho de regresso trocámos as posições. Quer dizer, continuámos na dianteira da caravana, mas desta vez o Barradas seguiria à frente e eu no terceiro lugar…


E pronto, a próxima hora e meia seria de duna acima, duna abaixo até às imediações do auberge onde se encontravam as motas.




Finalmente avistávamos a “civilização”, e alguns minutos depois o nosso guia estava a arrear os camelos, ou melhor dromedários. Depois o tipo montou ali uma banca com umas peças trabalhadas de minério fossilizado. Eram lindíssimas e pareceu-me que seriam em ónix negro (uma variedade de quartzo abundante em África). O tipo fazia-nos um bom preço por três peças. O Benedito só estava interessado na mini-tajine que era modelo único, de modo que ele ficou com ela e eu e o Barradas trouxemos cada um, um cinzeiro.
Antes ainda fomos pagar o que devíamos ao Hamid, e só depois regressámos para comprar os artefactos (não fosse faltar o dinheiro para o auberge) e tirar umas memoráveis fotos em cima dos dromedários de capacete enfiado na cabeça (na nossa claro, não nas dos simpáticos animais)…



Ficaram uns retratos bens fixes para mais tarde recordar.


Por esta altura estávamos desertos (calha bem) de tomar um bom banho. O Hamid já nos tinha disponibilizado um quarto do auberge para isso. Fomos buscar a tralha necessária às motas, que é o mesmo que dizer, 41 litros de mala. Viajar de mota não é simples, o “carrossel” do descarrega e carrega malas é diário, mas rapidamente nos acostumamos, o pior é mesmo é o conseguir fechá-las todos os dias de manhã.


Seguimos então pelo auberge dentro à procura do nosso duche. Enquanto dois sacudiam a areia o outro tomava banho. Fui primeiro e tudo começou bem, até estar ensaboado e não sair mais uma pinga do chuveiro… “Bom, quem é que lá vai dizer ao Manel que se acabou a água?!?”…
Daí a pouco já pingava… Mas uma água fria que nem gelo… Que se lixe!... Olha, mal não fará com certeza. Tomei a banhóca, seguiu-se o Benedito e quando foi a vez do Barradas, parece que a água já chegava quente. É impressionante como esta areia se mete por todo o lado. Tinha os fundos de todos os bolsos das calças cheios de areia.
Tive de bater bem a roupa e os sapatos na varanda do quarto onde estávamos para tirar o grosso da areia que tínhamos levado do deserto.
Recompostos voltámos ao hall do auberge para beber um café que o Hamid insistiu que tomássemos. Cinco estrelas este tipo.


E pusemo-nos a caminho de Ouarzazate.
Metade do caminho já o conhecíamos, seria feito de volta até Tinerhir. A outra metade seria daí em diante para Oeste em direcção ao mar. Mas para já, tínhamos de fazer estes 8km de pista até ao alcatrão. O Benedito seguiu à frente, com vontade. Eu logo atrás e o Barradas a fechar a caravana. Começou os saltitar da suspensão naquele piso às ondinhas… O Benedito deu-lhe gás e eu segui-o… Em pé em cima das motas, subimos a velocidade até aos 70km/h onde começa a dar-se aquele fenómeno fantástico da mota começar a “pairar”… O Barradas tinha razão quando na ida Deixamos de sentir o saltitar e vamos confortáveis. O perigo é mesmo apanhar um troço de areia e perder a direcção, mas a Tiger ia completamente firme com o belíssimo conjunto de suspensão a cumprir o seu trabalho. Frente estável e traseira presa, fantástico. Eu e o Benedito já devíamos ir para cima de uns 80km/h quando a direcção da Strom dele começa a fraquejar. A japonesa estava a chegar ao limite, a frente começava a ficar incontrolável, mesmo o Benedito bem munido de braços estava com dificuldades em segurá-la, teve de afrouxar. Eu seguia atrás dele desfasado, o que me permitiu dar gás e passar pela esquerda… Mas que qualidades fantástica tem esta britânica. O Benedito segurou a mota e estava bem, e eu segui até perto do final da pista, onde se encontra um amontoado de sinalização dos diversos auberges da zona. Esperei pelo Benedito e pelo Barradas e seguimos todos até à estrada.


Logo que pudemos parámos numa aldeola para levantar dinheiro. Estávamos a ficar baixos de finanças e cada um levantou mais 2000 dirhams (um pouco menos de 200€ portanto).


A saída da região do deserto é perceptível, a paisagem muda, as pessoas também. Quando avistámos aqueles que achámos seriam os últimos camelos, perdão dromedários, parámos à beira da estrada para umas fotos.


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