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Dia 8, Essaouira

Parámos numa localidade qualquer, no primeiro restaurante com grelha. Típica pintarola de boteco marroquino, com um avançado rígido para a rua onde se encontravam o grelhador e umas mesas. Dirigi-me ao tipo à frente das chapas que com um largo sorriso nos fez sinal para nos sentarmos.

Essa é uma característica que vimos durante todo o percurso. Sempre tivemos um tratamento diferente. Não sei se será o facto de nos fazermos deslocar de mota ou a nossa pinta de turistas, mas em todo o lado há por parte dos locais uma preocupação em nos agradar genuinamente. De forma humilde, mas empenhada, fazem gosto em nos servir da melhor forma, sempre com a vontade que apreciemos o que eles têm para nos oferecer. Aqui, como noutros botecos anteriores, tivemos direito a que nos escolhessem a mesa e nos facultassem talheres (tipicamente a comida é manuseada com as mãos). Nisso, creio que são muito parecidos connosco, é um povo que sabe receber!

Embora fossemos com algum receio da alimentação, esse nunca foi um verdadeiro problema. Creio até que o Benedito foi o que se safou melhor, e era inicialmente o que tinha maior receio. Nunca tivemos grande preocupação e sempre fizemos questão de não seleccionar restaurantes ocidentais, que também por cá existem. É verdade que os conceitos de higiene são diferentes por aqui, mas nunca tivemos problemas com isso em relação à comida. Os únicos “inconvenientes” deveram-se ao facto de não estarmos habituados aos temperos, e nunca estiveram relacionados com a qualidade da comida. A propósito, os meus desarranjos de véspera estavam melhores depois de consumir um Ultra-Levure.

O Benedito optou por frango e eu e o Barradas por carne de vaca picada, na brasa. Estava bom e bem aviado. Aqui deixei logo de lado as azeitonas e a salada marroquina habitual, restringi-me ao pão e ao meu prato. Pagámos e seguimos o nosso caminho. Mais um pouco até Essaouira. No caminho efectuámos mais um abastecimento e passámos por uma cena trágica, um atropelamento do que nos pareceu ser uma criança. Da maneira como conduzem, não devem ser infrequentes estas tristes cenas.

Finalmente começámos a avistar o mar da estrada, o que significava que estávamos a chegar ao destino. Descemos até ao nível do mar para entrar em Essaouira. Desta vez o hotel estava situado nos limites da cidade, mais propriamente a Sul, longe da confusão. O ponto do GPS estava correcto e levou-nos ao edifício pretendido, o hotel Borj Mogador com aspecto ocidental e agradável. Fomos à recepção fazer o check-in, e perguntámos onde poderíamos deixar as motas. Havia ao lado uma espécie de pequeno terreno baldio a fazer de parque onde poderíamos deixar as motos. Tinha guarda (claro…) ao preço de 10 dirhams por cada mota (menos de 1 euro). Mesmo com guarda deixámo-las amarradas, não fosse o diabo tecê-las. Descarregámos as malas no quarto, que não sendo nada de especial, era correcto e agradável, com a grande vantagem de uma das janelas ter vista para as “burras”!

De onde estávamos à Medina, seriam ainda uns trinta minutos a pé, andando bem. A 7 dirhams (menos de 70 cêntimos de euro) a viagem de táxi não havia mesmo razão para gastar as solas. Aliás, a este preço percebemos que a opção de ficar na Medina não é a melhor aposta. É fácil arranjar boas alternativas, a melhor preço, com parqueamento, fora da zona velha da cidade e optar por utilizar o táxi para as deslocações. Apanhámos o táxi logo em frente ao hotel, um Dácia creio que com 200 mil quilómetros e vários remendos. Em menos de dez minutos estávamos à porta da Medina.

Este local, e a costa atlântica marroquina, no geral, dizem-nos muito: Essaouira já foi portuguesa! Regressando à época quinhentista dos Descobrimentos, quando Portugal foi grande e desempenhou um papel importante no mundo. De facto, nessa altura, e sobre o nome de Mogador, os portugueses estiveram aqui instalados (e noutras cinco cidades costeiras) durante cerca de cinco anos. Fundada à mais de 2500 anos, foi ocupada por lusos que a fortificaram e a equiparam com armamento bélico. Aqui foi erigido o Castelo Real de Mogador em 1506, tendo sido tomado pelos berberes quatro anos mais tarde, obrigando a guarnição portuguesa a refugiar-se em Safi, uma cidade mais a Norte por onde também iríamos passar.
Essaouira sempre representou um ponto estratégico na costa marroquina. Antes do porto de Agadir se estabelecer, era por aqui que eram feitos os embarques e desembarques de homens e mercadorias. A fortaleza portuguesa não resistiu à remodelação e refortificação levada a cabo no século XVIII e pouco resta por lá que assinale a nossa curta passagem, a não ser o saudoso nome pela qual foi conhecida.

Depois da “loucura” de Marraquexe, estávamos secos de dinheiro. Tínhamos de levantar mais algum para dar até ao fim da viagem. Passámos por uma caixa logo depois do primeiro pórtico da vila, mas havia ali um problema. O Sol batia de frente no ecrã, e este não estava nas melhores condições. Ainda fizemos uma tentativa mas não se percebia nada.



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