Tichka, a loucura!
Dia 7, Tichka
Continuámos pela rua até esta nos levar a outra saída/entrada da vila. Aí reencontrámos o simpático casal marroquino do deserto. Aí também percebemos que por este lado não são cobrados bilhetes. Estes simpáticos senhores fizeram questão de nos levar a visitar a kasbah da vila, um verdadeiro monumento que ainda não tínhamos visitado. Tivemos assim uns excelentes guias sem custo algum. Passámos pela várias divisões (sala, recepção, cozinha) com os vários utensílios e com uma amabilidade que é bem marroquina, foram-nos explicando o que era isto e aquilo e para que servia. No final percebemos que também tinham levado com o barrete de 10 dirhams (1 euro) para entrar… Enganam-se uns aos outros! Fez-nos sentir menos ingénuos… Despedimos-nos desta simpática família e seguimos o caminho de regresso.




Quando chegámos ao estacionamento estava um grupo a apreciar as motas. Eram compatriotas também amantes de motas, mas desta vez estavam por cá num passeio de carro. Estivemos uns minutos à conversa, disto e daquilo. Despedidas e seguimos o nosso caminho que ainda havia um bom troço de estrada a fazer. À nossa frente tínhamos o Alto Atlas, com a inevitável passagem pelo Tizni n’Tichka a 2260m de altitude. Para quem vem de Ouarzazate e pretende alcançar Marraquexe, este é o único caminho possível, um sucedâneo de curvas e contra-curvas montanha acima e abaixo… Olha que chatice!




Tivemos ali a assistência de um marroquino que parecia ser o encarregado do negócio. Depois de escolhermos umas costeletas de vaca para grelhar, o simpático homem levou-nos a ver a panorâmica do vale logo por cima do restaurante. Quando nos aprontávamos a subir a escada que leva ao telhado, fez-nos sinal para um marroquino mais idoso que cumprimentámos. Era o pai dele e proprietário deste “complexo” de comes e bebes... Lá em cima a vista era excelente, com uma bonita panorâmica sobre o vale. Perguntei ao fulano onde fica o Tichka, e ele apontou-nos no sentido da estrada que se enfiava pela montanha. “Mais uns quilómetros por ali”, disse-nos ele. Parece que há neve na passagem do Tizni n’Tichka, mas felizmente não nesta altura do ano. Regressámos cá abaixo para tratar da fome.

Não se esperou muito até começar a aparecer na mesa o pão, azeitonas e habituais saladas marroquinas. Pouco depois chegou também a carne bem grelhada. Um almoço simpático e agradável. No final a conta rondou os 70 dirhams por pessoa (cerca de 6,5€), o que foi bastante agradável. Ainda antes de partir deixámos um dos marroquinos que por ali trabalhava tirar uma foto em cima de uma Tiger. Ia para lhe dizer que subir para cima do banco era mais fácil do lado direito, mas já não tive tempo. O tipo montou-se na mota pelo outro lado alçando a sua comprida perna, e não teve dificuldade nenhuma!… Foto, cumprimentos e adeus, vamos para o Tichka!
Fizemos a estrada que tínhamos visto a partir do telhado do restaurante e a partir daí foi só diversão até lá acima!... Diversão sim, mas comedida. É que a estrada aqui não é diferente das outras: lixo, terra, gravilha com fartura nos beirados da estrada. Não dá para facilitar… Isto somado aos vários camiões que vamos apanhando, e estamos limitados. Não parava de pensar que se deveria atingir facilmente o Nirvana neste troço se o mesmo estivesse em boas condições. Esta foi sem dúvida a estrada mais torcida que fizemos em Marrocos. Paisagem a condizer, numa mistura de rocha e vegetação a lembrar um pouco os Alpes. Mesmo assim, menos a meu gosto quando comparado com o locais por onde passámos na travessia do Médio Atlas, esse sim para mim o top desta viagem em paisagem mototurística!
Eu seguia atrás e o Barradas à frente. Íamos tão entusiasmados e a desfrutar da cena que até passámos o ponto de 2260m de altitude onde se encontra o marco de passagem do Tichka! Emendámos o lapso e quando chegámos à placa que assinala o sítio encontrámos uma inglesa que também por ali estava em viagem numa Suzuki Freewind.

Não me recordo do nome dela, mas era extremamente simpática. Já nos seus 40/50, com um ar completamente descontraído do género hippie, tinha pinta de já ter feito muitos quilómetros de estrada. Aquele tipo de viajante que anda sem compromissos, nem itinerários, e muitas vezes sem destino. Às tantas ela puxou de um mapa e começou-nos a apontar para onde pretendia ir, mais ou menos. Ainda não sabia bem onde iria passar a noite, algures naquela direcção. A Freewind estava bem artilhada de bagagem, com uma topcase e uns alforges amarados com cordas.


Queria tirar uma foto da Suzuki com as Tigers para mostrar ao irmão que também tinha uma, mas modelo 1050. Não nos demorámos muito, o tempo de trocar umas palavras com a nossa amiga e de tirar umas fotos. Ela seguiu caminho, e nós também.
Mesmo sem GPS o Benedito seguia à frente, aqui não havia que enganar. Mais uns curvões, mais umas paisagens espectaculares e em local apropriado fiz sinal ao Benedito para parar. Estávamos numa posição alta e privilegiada para uma foto desta fantástica “serpente do asfalto”. Parámos na margem junto a uma chafarica de venda de artesanato e logo depois vimos chegar a inglesa que fez o mesmo. Puxámos da máquinas para fotografar o local, mas ela não se demorou, de capacete e com a Freewind a trabalhar, despediu-se e saiu a correr quando se apercebeu que estava um enorme camião para passar. E ainda conseguiu sair à frente deste.




Nós não estávamos com pressa. Deixámo-lo ir, e subimos um pouco a estrada á procura de um ângulo de vista mais apropriado sobre a estrada.




Um pouco depois estávamos de regresso à estrada agora em trajectória descendente. A britânica ia-lhe a dar bem, pois mesmo com cerca de dez minutos de avanço ainda demorámos um pouco a alcançá-la!…

Vá pronto, servem também de desculpa uns quantos carros e camiões que tivemos de ultrapassar. Passámos por ela, acenámos mais uma vez e vamos embora.

O cenário ia mudando, ficava mais verdejante e arbóreo. A estrada ficava menos sinuosa, mas nem por isso menos divertida. Mais adiante, mais uma paragem para fotografar não sei o quê. E de novo vieram uns marroquinos não sei de onde, a querer vender não sei o quê. Acho que eram umas peças em quartzo, mas neste momento a minha preocupação era encontrar um Imodium Rapid que levava enfiado não sei em que mala! Malditas saladas marroquinas, estavam a fazer efeito… Felizmente não se tratava de um desarranjo agudo, mas antes a necessidade de fazer uma “purga” depois de seis dias de tajines e saladas marroquinas. Mais um pouco até Marraquexe a ver se o comprimido faz efeito, senão terá mesmo de se resolver a situação atrás de um pinheiro!
Quando nos abeirámos do destino, ia melhor, mas nem por isso com o caso resolvido.
A entrada em Marraquexe foi como prevíamos, stressante. Já íamos avisados que ali o trânsito é assustador, nomeadamente o de motoretas (ou mobylettes). Confirma-se, parecem abelhas vindas de todos os lados, isto somado aos outros veículos que circulam ao melhor estilo marroquino, que é, como lhes apetece. Já ouvia o Barradas a stressar com as aproximações e achegas “à confiança” dos nativos. De facto no inicio tem piada, mas depois chateia. E claro, nós não fazíamos por menos e o nosso riad encontrava-se precisamente dentro da Medina (centro histórico). Pelo menos aqui íamos precavidos e levávamos o ponto de um estacionamento próximo, o parque da Prefeitura. Por aí estávamos safos, achávamos nós erradamente. Lá segui em diante, Medina a dentro… Esquerda, direita, vira, é por ali, é por aqui… chegámos.
O ponto levou-nos de facto ao parque de estacionamento da Prefeitura, com lugar talvez para uns 40 carros. Até aqui sem sobressaltos, tudo como planeado. Aquilo que para o qual não estávamos preparados veio de seguida. Encostámos no estacionamento à procura de lugar, e fomos logo cercados por uma dezena de fedelhos. Queriam 100 dirhams (9 euros e picos) por cada mota para ficar ali durante a noite!… Perdão?!... E trabalhar não?...
Deixe-nos a sua mensagem