Todra abaixo
Dia 5, Todra
Começámos a progredir numa espécie de “canyon” de rocha alaranjada que se ia elevando ao nosso redor. A estrada variava de mais ou menos, a muito má. Ao lado desta passava um oued por esta altura completamente seco. Deste, só se avistam os milhares de bocados de pedra que compõem o seu leito. Mais uns minutos desta paisagem exótica e num virar de “esquina” surge o centro turístico das gargantas. Começámos logo a ver as barraquinhas do lado direito, e aí parámos.
Em três segundos tínhamos um marroquino ao nosso lado a perguntar-nos de onde éramos e a querer vender coisas. A sorte dele é que a sua cabeça estava ornamentada por um magnífico shesh azulado (lenço berber). O Barradas andava há dias a falar no lenço e foi logo assuntar de preços. Conversa para aqui, conversa para lá, fazia-nos 150 dihrams por 3 lenços (cerca de 4,5€ cada). Pareceu-nos razoável e o Barradas ficava contente com o seu lenço. Eu, pessoalmente fazia ideia de comprar um para dar à Maria. Não é que tivesse especial fascínio pelo lenço, mas depois de ter posto, não é nada mau, e daria um jeitão mais tarde no deserto.
O berber era muito simpático e explicou-me como se punha a “farpela”, à berber disse ele… nada complicado. Tirámos logo uma foto com os turbantes postos. O tipo queria nos vender mais qualquer coisa, e até nos dar de comer, da sua tajine que estava ali a cozinha num buraco da estrada. Agradecemos e seguimos, tínhamos de estar às 16h00 no deserto.
Ainda fizemos uma paragem rápida mais adiante, no centro turístico das gargantas do Todra. Muita gente, muita confusão, muitos carros, autocarros, e um calor dos diabos! Não demoramos muito por ali, ainda havia muitos quilómetros para fazer até ao deserto. Saímos daquela confusão,
Atravessámos a cidade de Tinerhir logo aos pés do Todra e seguimos para Este, em direcção ao Sahara. Rectas e rectas intermináveis e calor. Tivemos de fazer uma paragem num boteco de uma estação de serviço para almoçar. Tudo ali se processava lentamente. Pedimos uma tagine, umas colas e água. Não estava nada de especial, teve de vir outra para não ficarmos com fome. Enfim, almoçou-se.
Mais uns quilómetros e vimos um primeiro pórtico que julgámos assinalar as Portas do deserto. Atravessámos Erfoud a velocidade branda. O local estava inundado de jovens em bicicletas. Deviam estar a sair da escola, e eram às centenas, uns atrás dos outros, a pé e em duas rodas. Finalmente, ao longe já se via a duna. Já próximos de Merzouga ficámos atentos às indicações para o Auberge du Sud para onde pretendíamos ir. Sabíamos que existia indicação na estrada e que daí até lá seriam uns 6 a 7kms de pista manhosa. O Benedito ia à minha frente e de repente vejo uma máquina fotográfica a saltar da Strom. Foi ao chão e separou-se em dois bocados. Bonito. Imbuído do espírito de artista da fotografia lembrou-se de sacar umas fotos em andamento, escapou-lhe da mão e o resultado foi o que se viu! Voltou atrás para apanhar os bocados. Estava difícil encontrar, mas lá apareceram. Já eram umas 16h00 quando demos com a entrada para a pista, devidamente assinalada, como nos tinham informado. Segui à frente.
O solo era sólido, num misto de gravilha e areia. Fomos à cautela. Alguns troços eram terríveis. Um piso em rendilhado de ondas que provocavam uns solavancos valentes na moto e no esqueleto. Carregados que nem uns burros, a sensação não era nada confortável. Não é que a Tiger não se sentisse bem ali, nós é que não nos aguentávamos!
Fomos devagar, ás tantas o Barradas diz-me que talvez com velocidade se fizesse melhor o troço. Não fiquei convencido. Velocidade OK, mas cuidado também com o tralho. Uma roda mal enfiada na areia e virávamos facilmente o boneco. O regresso foi totalmente diferente, e a teoria do Barradas estava certa.
Depois de meia dúzia de quilómetros de martírio alcançámos a beira da duna e do auberge. O local é fantástico, como nos filmes! O edifício do auberge assemelha-se a uma enorme kashbah berber (construção típica marroquina com laivos de fortaleza) defronte a um mar de areia.
Logo em frente avistámos os camelos, ou melhor dromedários. Alguns já estavam carregados a caminho do deserto, enquanto outros permaneciam “pousados” na areia a aguardar a sua vez.
Assim que se deita olho às dunas apercebemo-nos da particularidade do sítio. Aqui a luz e as cores são diferentes. É difícil explicar, talvez o contraste do céu azul com o reflexo do Sol no colorido da areia. Aqui a areia é ocre, e vê-la assim espalhada em montes por quilómetros confunde a nossa noção de espaço. A combinação do azul e laranja nestas quantidades é algo exótico e fascinante para os nossos olhos europeus. Este bocado do deserto onde nos encontrávamos é conhecido por Erg Chebbi (ou dunas de Merzouga) sendo um dos dois maiores conjuntos de dunas do Sahara marroquino.
Depois da primeira impressão, estacionámos as motas no parque e seguimos directos para o auberge, estava mesmo na hora de embarcar para o deserto. A sala de recepção do auberge é qualquer coisa de fenomenal. Tipicamente decorada e repleta de símbolos berberes. Na recepção estava o sempre bem disposto Hamid, numa azáfama que só visto! Mais tarde percebemos porquê. As caravanas da véspera ficaram retidas no Auberge por imposição de uma tempestade de areia. Tivemos sorte, um dia antes e teríamos visto o deserto por um canudo. Confirmámos a reserva e esperámos pela nossa vez enquanto bebíamos um “whisky” berbere acompanhado de uns “cacahuetes”.
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