Dar à sola


Dia 3

Acordámos cedo e espreitamos cá para fora o tempo. Não estava nada famoso, tudo coberto.

Despachamos a rotina da manhã e descemos para o pequeno-almoço.

Cá em abaixo já estava um grupo a preparar-se para uma caminhada. Uns dez velhotes franceses, bem dispostos, equipados até aos dentes e acompanhados de um guia. Levavam farnel, o que indiciava que a caminhada seria grande... Ou então iriam devagar.

Rapidamente se fizeram ao caminho e ficámos a sós na sala para tomar o pequeno-almoço.

Já estava na mesa o pão, croissants, manteiga e doces quando se sentou na outra ponta da mesa um individuo de aspecto intrigante. Aparentava ter uns 50 e muitos/60 e poucos e, ou via mal ou estava muito intrigado com o que nos tinham acabado de servir, pois chegou mesmo a esticar o pescoço para espreitar.

Veio o café para nós, e pouco tempo depois também para o fulano.

Às tantas o tipo não resistiu e meteu conversa, começou a falar em espanhol para nós, acho… Respondi que éramos portugueses, e que estávamos por aqui a passear de mota.

"Ah, então foram vocês que estacionaram ao lado do meu carro, não lhe fizeram um risco? não?" – disse-nos ele.

Quando comecei a querer dizer-lhe que não, que tínhamos tido cautela, o tipo esboçou um sorriso dizendo que estava a brincar, e que não ligava nenhuma a carros.

Afinal o tipo era bem disposto e apenas queria falar um bocado.

Estivemos ali a falar um pouco, o senhor era de Marselha, coisa que desconfiei logo pelo sotaque, o pessoal do Sul de França tem uma maneira de falar cantarolando, nota-se logo.
Disse-me que já tinha estado em Portugal, em Lisboa e no Porto e que adorava a nossa comida. Falou-me também que tinha 68 anos e que gostava de fazer caminhadas e comer bem. Enganava, não lhe daria 68, pelo menos pelo aspecto e genica que o homem aparentava.

Falamos de mais umas coisas durante o pequeno-almoço, e depois percebemos que ele iria fazer a volta maior do Cirque. Há por aqui muitos percursos a fazer em Garvanie, e várias opções em redor do Circo. A volta mais pequena (a que íamos fazer), que é basicamente ir da aldeia até ao pé da cascata são cerca de 4kms e picos para cada lado com cerca de 200 metros de desnível, algo para fazer nas calmas em 3h (ir e vir). Depois há mais opções em redor da cascata para dia inteiro, 8 ou mais horas. Para quem goste de andar pela natureza, este lugar é um pequeno paraíso.

Depois do pequeno-almoço tomado, fomos libertar o quarto, deixando as Tigers já carregadas, prontas a arrancar no nosso regresso… E depois, finalmente saímos para dar às pernas.

Estava mais para chover que para outra coisa. Curiosamente não estava muito frio.

Durante a noite tinha-se instalado um capacete de nuvens por cima de Gavarnie que trouxe com ele um raio de uma humidade.

Passámos pelos cavalos e burros à saída da aldeia. É possível fazer o passeio nestes por 20 a 30€… Até poderíamos fazê-lo, mas não era a mesma coisa… Fomos antes a pé.

Refizemos o caminho até ao rio que tínhamos feito de véspera, e continuamos em direcção ao Cirque que nunca se perde de vista durante toda a caminhada.

Por esta altura já pingava uma chuva miudinha.

O percurso é fabuloso, o piso é bom e no início é mais ou menos plano, seguindo sempre junto ao rio.

A paisagem é fabulosa, e do género a que não estamos habituados. Uma espécie de vale forrado com um tapete verde abundante e encostas repletas de pinheiros alpinos (do género pinheiro de natal).

Pelo caminho fomos cruzando com uns quantos velhotes. Devo dizer que por esta altura já estávamos a desconfiar que tínhamos descoberto para onde os reformados franceses vêm passar o final das suas vidas… Para aqui, para os Pirenéus. Incrível a quantidade de velhotes que se encontra por aqui, em caminhadas e a andar de bicicleta.

Os últimos 300 metros até ao hotel (sim, existe um à beira da cascata) são suados.

Sempre a galgar. Subimos bem, mas eu cheguei lá acima literalmente a pingar em bica.

Junto ao hotel foi puxar da máquina e aproveitar o cenário único que tínhamos à frente dos nossos olhos…

Mensagens:

Enviado a 16-10-2021 por Marco Vieira

Olá, antes de mais os meus parabéns pelo blogue e pela descrição da viagem aos Pirenéus. Mesmo sem fotos, a escrita é de tal forma agradável e descritiva que mais parece uma conversa. Senti-me a fazer a viagem convosco e ainda alimentou mais o desejo de arrancar para lá. Um grande abraço, Marco

Enviado a 16-10-2021 por Daniel Santos

Olá Marco, obrigado pelo simpático comentário!
De facto Pirinéus é um excelente destino de montanha para nós que estamos aqui na ponta Oeste da Europa.
Algumas fotos ficaram indisponíveis depois de uma mudança de servidor de hospedagem.
Aos poucos serão actualizados os links para que fiquem novamente disponíveis mas é uma operação que está a demorar mais que o desejável :/



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