Então e um crêpe?
Dia 4
Acordei depois de uma noite não muito bem dormida. O quarto estava quente, o colchão era estreito e abaulado no centro... Grande nóia.
Em compensação lá fora o tempo parecia estar a virar para melhor, aliás como se previa de véspera.
Higiene matinal, arrumamos as malas, e lá descemos com elas até à garagem onde ficaram as Tigers a pernoitar.
Quando estávamos à volta delas aparece um francês, forte, nos seus 60 que começou a mirar as “meninas” com um sorriso.
Já não me recordo como fez a abordagem ou se fui eu que falei primeiro com ele, sei que ao fim de uns segundos estávamos a falar de motas.
Pelas nossas matrículas ele tinha percebido de onde éramos, fez-me umas perguntas sobre a nossa viagem, e depois contou-me que também ele rolava de mota.
Tinha vendido uma GS há pouco, essencialmente porque a esposa dele já não queria andar de mota. No entretanto comprou uma XTZ660 Ténéré, na esperança de troca pela nova MT-09 que acabou de chegar. Mas estava de olho nas tigresas, e fez-me umas perguntas sobre a máquina.
Dei-lhe o meu feedback sincero, quase 100 cavalos, disponibilidade de motor em baixas como poucas, confortável, fácil de conduzir, dois anos, mais de 20 mil kms, zero chatices. Percebi logo que o tipo era informado, e que seguia as revistas. Estava muito receptivo à Tiger, e acabou por me dizer que ia ver dela proximamente.
Um indivíduo de uma simpatia e educação primorosa, que devo dizer, foi o que presenciámos em todo o lado francês dos Pirenéus por onde circulámos.
Nisto eram quase horas de pagar, a recepção abria às 9h00. Aqui como da outra vez, decidimos que tomaríamos o pequeno-almoço no caminho… Ainda bem que o fizemos, mais adiante vão perceber porquê.
Hoje o dia seria ocupado na estrada, 180 quilómetros para fazer, mas com uns quantos locais para visitar.
Primeiro ponto, os lagos do Parque Natural de Néouvielle. Durante a elaboração do traçado, às tantas ponderámos excluir esta subida aos lagos... Felizmente não o fizemos.
Subir aos lagos representa despender umas duas horas no mínimo, não ficando estes a caminho de nada. É lá ir e voltar. Dado a distância que tínhamos de fazer até Vielha, esta ida ficou dependente do estado do tempo… Quando finalmente deixámos Saint-Lary-Soulan, a perspectiva era boa. Já se via nalgumas partes o céu azul.
À saída da vila a estrada estava um pouco mal tratada, com muita gravilha, fruto provavelmente de umas recentes obras. O Barradas seguiu à frente com cuidado com os seus pneus em estado slick. Ao cabo de pouco kms tínhamos chegado ao cruzamento da estrada dos lagos. Daí, começámos a subir em direcção aos lagos.
A estrada começa estreita e enfiada na sombra do vale. Vegetação densa em redor e um piso ainda húmido que implica cautela. Passamos por uma ponte, e logo percebemos que havia um curso de água por ali. Depois, o arvoredo espalha-se e começa-se a ver o Sol. A estrada estava a ficar bem torcida e as vistas deslumbrantes. Estávamos a subir por uma paisagem rochosa coberta pelo habitual manto verde viçoso, tão característico daqui.
Espreitando para cima conseguíamos ver os topos escondidos por algumas nuvens baixas, dando um efeito de mistério ao cenário. Uns quantos cotovelos pela frente, bem fechados, que dificilmente conseguimos fazer sem sair fora-de-mão. A Tiger está como um peixe na água neste tipo de traçado. A boa disponibilidade de motor em baixa, faz com que se possa fazer cada um destes laços com segurança sem recorrer a embraiagem e raramente à caixa.
Depois de uma boa meia-hora desta estrada, a primeira paragem no lago d’Aubert.

Bem fresquinho o tempo por aqui. O sítio é magnífico, em especial a esta hora da manhã.

Uma tranquilidade profunda, com aquela extensão de água ainda a fumegar com o diferencial de temperatura.

Puxámos das máquinas para tirar umas fotos, e estivemos por ali um bom quarto-de-hora.

Lá no cimo, entre as paredes rochosas conseguia-se ver claramente a parede da barragem a montante. Já lá vamos de seguida.

Esta zona do parque encerra uma série de lagos de boas dimensões. O próximo estava na continuidade deste onde nos encontrávamos.
Tínhamos o ponto no GPS, pelo que seguimos pela estrada. Mas não por muito tempo. Logo adiante a estrada estava barrada com cancela.
Parámos, fomos espreitar e percebemos. Logo depois da cancela está um parque de estacionamento, pago e obrigatório. O acesso ao lago seguinte faz-se a pé a partir do parque. Não seria questão de não valer a pena, mas tínhamos o tempo contado e uns quantos quilómetros para fazer no dia de hoje. Fica para uma próxima, com mais tempo.
Retrocedemos caminho e subimos em direcção à barragem. À medida que se sobe a vegetação fica menos proeminente, sem que por isso as vistas fiquem mais interessantes.

A estrada continuava desafiadora quanto baste, com as suas curvas entrelaçadas e apertadas.

Quando chegámos ao cimo dos dois mil cento e tal metros, novo espectáculo magnifico.



Aqui a água está presa numa albufeira que se perde montanha adentro.

O vento frio não era forte, o que permitia vislumbrar o bonito reflexo das encostas na água quase imperturbada.

Havia por ali uns casarucos fechados que em época alta deveriam assegurar serviço de bar e restaurante.

Escusado será dizer que a vista ali de cima era fantástica, conseguindo-se contemplar o lago d’Aubert e grande parte do vale. Creio que as fotos falam por si.


Capturadas todas as imagens, foi com satisfação que regressámos às Tigers para fazer o percurso sem sentido oposto. Maravilha de estrada.

Na subida tínhamos ficado de olho num troço de vista ampla com um rio à beira da estrada a fazer uns jeitos de cascata.
Fomos descendo atentos a esta imagem para uma curta paragem para fotos. Mas quem anda na estrada sabe que o sentido em que se vai dá-nos uma perspectiva diferente do mesmo sítio, por vezes nem parece que já passámos por ali no outro sentido. Pois bem, foi mesmo assim, não conseguimos dar com o sítio... Tudo bem, já levamos aqui uma boa quantidade de postais.
Ao chegar ao cruzamento parámos junto a uma moradia grande que fazia de café no piso térreo. Já seriam perto das 11h00 e nós ainda sem pequeno-almoço… Vamos mas é tratar disso.
Estacionamos as motas junto à esplanada e entrámos. Lá dentro, os proprietários, um casal nos seus cinquenta e muitos, imediatamente nos cumprimentaram.

Espreitámos o placard que descriminava o que havia para consumo… Crêpes com chocolate da casa…
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