Onde mija um português...


Dia 4

Ui, é mesmo isso, mais um café com leite a acompanhar e tudo servido ao Sol na esplanada, se favor.

Sentamo-nos numa das mesas no exterior, e não demorou muito para que nos fossem servidos os crepes e uma enorme chávena de café.

Estava um pouco fresco lá fora, mas o Sol já batia forte, pelo que ficámos ali muito confortáveis a dar cabo daqueles fantásticos crepes.

E foram mesmo deliciosos, seguramente os melhores que comemos por estas terras.

Ainda antes de seguir viagem, cruzámos com um casal de alemães numa CBR XX que também ali pararam no café.

O tipo arranhava mal o inglês, mas conseguimos dar-lhe a dica dos lagos, recomendando a subida até lá acima.

Uma nota curiosa, o facto da senhora francesa ter vindo ao exterior se despedir de nós quando se apercebeu que estávamos de partida.

Voltámos a Saint-Lary-Soulan refazendo aquela estrada suja de gravilha, lá chegados mudámos o rumo para Sudeste em direcção a Espanha.

Começámos a subir de novo, no sentido do Col de Val Louron-Azet (1580 metros). A meio caminho, parámos para tirar umas fotos à paisagem no fundo do vale.

Depois no col, outra paragem. A paisagem aqui é muito interessante. Vêem-se claramente daqui as duas encostas, de um lado Saint-Lary e do outro Génos e o seu lago, por onde iríamos passar.

No topo, como habitualmente, muito ciclista. Foram uma constante em todo o percurso do lado francês. Andámos verdadeiramente pela terra do pedal. Mas o que mais me espantou, foram as idades dos praticantes. É ver homens de barba branca e senhoras de cabelo grisalho, bem acima dos 50 a lançarem-se sem medos em subidas de 6 a 8% de inclinação. E nós a andar por ali de cu tremido, é de ficar com vergonha.

Do lado de Génos, andavam por ali um pessoal nos ares em parapente. Descemos a encosta, sempre com os fulanos por cima das nossas cabeças… A ver se não levamos com nenhum.

Lá em baixo ladeamos o lago que precede a vila. Coisa fantástica, tudo arranjadinho ao milímetro. As margens do lago estão revestidas de um relvado magnífico certo e aparado sem qualquer falha. São a essas margens que pessoal recorre para descanso e recreio.

Chegados à vila, pensámos que seria boa ideia almoçar por aqui. Os tipos almoçam cedo, e encontrámos um restaurante à entrada de Génos. Ficámos logo ali.

Casita castiça com esplanada exterior, perfeito. Fomos às hamburguesas da região. Pedi um com queijo de cabra e mel (fiquei fã desta mistura) e o Rui mandou vir um estilo montanhês.

Já referi anteriormente que a concentração de reformados por estas bandas é anormalmente grande. Tenho a minha própria teoria que a vida por aqui é sazonal. Em suma, durante as estações do ano mais propícias, os velhotes franceses deslocam-se para estas bonitas terras, para aproveitar o bom ar, fazer caminhadas e dar ao pedal. No Inverno, que por aqui são rigorosos, deve passar-se precisamente o contrário, dando lugar à “juventude” e desportos radicais.

Aí estava a excepção do dia… Uma jovem francesa a atender-nos. Vinte e muitos, cabelo curto, estilo meio-gótico, toda vestida de preto, com um piercing num local curioso. No decote, logo por baixo do pescoço tinha uma espécie de brinco cravado no peito… Pela pronúncia via-se que não seria de cá. Não tinha o sotaque característico da zona, que é semelhante ao que o pessoal tem no Sul de França, um falar cantarolado.

Vieram os hambúrgueres. Estavam assim, assim. A carne era boa, mas no conjunto, nada de espectacular. Pelo que achámos que uns crepes no final ficariam a matar.

Chegámos com Sol e saímos com ele coberto. Seguimos pelo lado contrário ao que tínhamos chegado, parando mais adiante para mais umas “chapas”.

Continuando para Sudeste, atravessámos a vila de Luchon. Bem engraçada.

Um quanto movimento por aqui, com algumas avenidas longas, a vila tem uma dimensão considerável. O próximo destino seria uma aproximação ao pico d’Aspe, alcançando a estância de Inverno de Superbagnères, a cerca de 1800 metros. De novo a subir.

Também aqui as chuvas fizeram estragos e novamente um troço de estrada em obras cortado.

Felizmente estavam a deixar fluir o trânsito, de modo que conseguimos passar assim mesmo. Alguma cautela na passagem da obra, com um pedaço de estrada totalmente enlameado.

Com o céu nublado, à medida que ganhávamos altitude, o tempo encobria. Felizmente nada de chuva, apenas alguma água na estrada.

Subimos aquela estrada aos esses até ao cimo da estância.

Como é normal, nesta altura estes equipamentos estão todos encerrados.

Mesmo assim é fácil imaginar esta vista toda carregada de branco.

Quase nos 2000 metros estava fresquinho… Demos por ali uma volta, e de tantas voltas estávamos os dois a precisar urgentemente de um urinol.

Fomos espreitar ao edifício que suporta a instância se poderíamos tratar ali da nossa necessidade, mas aparentemente estava mesmo tudo fechado, incluindo WCs.

Nisto, diz o Barradas, “Ali atrás daquela casa há ali uma casa de banho…” Estava uma casita encerrada as uns 100 metros complexo. Fomos lá espreitar.

E não é que havia mesmo um WC ao ar livre com vista para a montanha… Foi ali mesmo, fora de olhares indiscretos… Muito melhor… E assim se confirmou a máxima de que, quando mija um português, mijam dois ou três…

Com tudo despachado, viemos para baixo de novo por aquela estrada louca.

tudo bem aí?

Regressámos a Luchon, e saímos em direcção a Espanha.

De manhã à saída do hotel, em conversa com a recepcionista, esta tinha-nos avisado que do lado espanhol tudo mudava. Gentes, vegetação, paisagem e até a temperatura com diferença de mais 10ºC.

Estávamos a confirmar isso. O arvoredo estava a mudar de um estilo “alpino” para um estilo “ibérico”. E o tempo parecia também mais quente.

E continuávamos a subir. Sabíamos que a fronteira se situava no cimo de um col, a 1291 metros.

O tempo esse continuava meio encoberto.

Chegámos então ao Col do Portillon por volta das 16h30. Aqui deixaríamos França para trás, para entrar nos Pirenéus espanhóis, mais especificamente no Vale de Aran (Val d’Aran).

Estácionamos as Tiger, só para registar o momento. Por ali andavam uns quantos espanhóis a fazer o mesmo que nós, passear.

Uns velhotes que seriam daqui perto ficaram curiosos connosco, e a espanhola mais atrevida ariscou conversa. Perguntou-nos de onde vínhamos. Estivemos ali uns breves minutos à conversa. Gosto deste tipo de contacto com as pessoas por onde passo nas viagens. Para além de nos ajudar a integrar nos sítios, gosto de pensar que é também uma maneira simpática de reconhecimento. As pessoas gostam da sua terra, e acho que gostam ainda mais que os outros também a apreciem.

Despedimo-nos dos velhotes, e descemos pelo lado espanhol. Tínhamos mais 15 quilómetros pela frente até Vielha, onde iriamos pernoitar.



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