O Pirenéu Espanhol
Dia 5
Depois de uma noite bem dormida, rotina habitual da manhã.
Deixámos tudo arrumado e descemos para o pequeno-almoço já com as calças de rolar vestidas.
Na sala de refeições do hotel já nos aguardava uma copiosa refeição. Deve ter sido provavelmente o pequeno-almoço mais abastecido que tivemos em toda a viagem. Torradas, pães, frutas, cereais, iogurte, tomate, queijo, carnes frias, croissants, donuts, outras pastelarias, e devo estar a esquecer alguma coisa… Chiça!
Os espanhóis faziam fila à frente do pão torrado e dos tomates (salvo seja). A torrada em Espanha também se come de tomatada. Em cima do pão torrado, com os ditos cortados a meio (ouch!), o pessoal barrava o pão até ficar praticamente com a pele na mão. Depois, vai azeite e sal por cima. Obrigado, eu passo esta receita, e fico-me pelos doces.
Café é que estamos mal, era *aquela aguadilha escura espanhola a que já estamos habituados. Comemos e repetimos.
Saímos de lá bem satisfeitos. Buscar as malas, pagar a conta e siga caminho. O dia estava soalheiro mas a atirar para o fresco. Atestámos os depósitos à saída de Vielha e continuámos para Sudeste.
9h35 da manhã e estávamos despachados e a rolar. Seguimos pelo Val d’Aran atravessando umas quantas aldeias pequenas engraçadas em tudo semelhante a Vielha. Casas de pedra de telhados negros a pique.
Depois começámos a subir até ao pico de Port de la Bonaigua até uns 1600 metros de altitude. E se estava fresco cá em baixo, lá em cima estava um pouco mais.
Ao chegar ao cimo, fomos recebido por esta comitiva.

Estes amigos são bem simpáticos e engraçados com as suas fartas crinas e aspecto arredondado. Estão relativamente habituados à presença humana, e não se negam ao contacto, embora também não o procurem.
Passaram por nós e seguiram para o pasto. E pasto não falta por ali.



Parámos as motas, e fomos espreitar em redor.

Tudo desértico, como todas as estâncias por onde passámos durante a viagem. Isto deve ser animado de Inverno, mas nessa altura não se deve andar por aqui de mota.

Andavam uns tipos pendurados em reparações dos teleféricos. Já se estava a preparar a época.

Voltámos às Tigers e continuámos pelo outro lado da encosta. Começavam os laços fechados. A caminho passámos por um grupo de Tigers 800 que se encontravam estacionadas à beira da estrada. Não chegamos a parar mas fizeram-nos uma festa ao passar. Julgo que seriam franceses.
Viemos por ali abaixo com calma a curtir aquela maravilhosa estrada. De torcida passou a uma extensa recta com curvas redondas de boa velocidade. Adoro este tipo de percurso que nos proporciona uma estrada fácil (mas nem por isso menos divertida) e não nos prende demasiadamente o pensamento na condução. Sobra-nos uma reserva para apreciarmos devidamente o local por onde passamos. Gosto mesmo deste tipo de estrada.
Às tantas a estrada enfia por um vale, com uma encosta à nossa direita. Do lado esquerdo conseguíamos ver uma pequena albufeira mesmo junto à estrada. Muito bonita a paisagem por aqui. Rolámos um bom bocado assim até sair dos Pirenéus. Depois começámos a trepar de novo o monte.
Estrada de piso razoável, enrolada com curvas estreitas, mas sem laços. O ideal para se fazer de mota. Fomos soltos sem exageros, mas a curtir bem aquele traçado.
Aqui a paisagem é desafogada. Já não se vêem aqueles pinheiros alpinos espalhados pela encosta. É serra ibérica, daquela a que já estamos habituados em Portugal.
Subimos um bom bocado até Port del Cantó (1718 metros de altitude) para aí fazer uma paragem.

Nesse momento, adivinhem quem chega? Os nossos amigos holandeses da autocaravana. Seria a última vez que os iríamos encontrar, eles seguiriam para o Sul de Espanha e nós íamos rumar para Norte, de novo para os Pirenéus, para Andorra.


Não demorámos por ali muito. A vista é boa, mas não particularmente espectacular. Voltamos ao asfalto desta vez para fazer a outra encosta do monte a descer.
Do outro lado, o traçado era mais agressivo e divertido. Muitas curvas encadeadas, alguma a requer algum cuidado.
O Rui seguia à frente, e às tantas numa dessas “chicanes” ficámos separados por um daqueles pequenos autocarros. Estávamos afastados uns 100 ou 200 metros, e eu atrás do mini-bus sem visibilidade. O Rui ia a controlar o trânsito e deu-me o OK pelo intercomunicador. E banzai! Lá vou eu! Rodo o punho de acelerador, e sem reduzir mudança ponho o Tigre a rugir. Este motor é fabuloso, não se nega a nada, em 20 mil quilómetros feitos devo ter recorrido uma ou duas vezes à caixa para fazer ultrapassagens.
O Tigre enche o pulmão e faço a curva toda fora de mão com visibilidade zero. O tipo do autocarro deve ter ficado de boca aberta a pensar que devia estar possuído por algum demónio.
Prosseguimos com a descida, por aquelas curvas malucas até lá abaixo. Um mimo. E estávamos finalmente a aproximar de Andorra.
Estávamos a prever uma passagem tranquila pela fronteira. O difícil não é entrar, é sair. E assim foi, entrámos sem paragens em Andorra.
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